Novas tecnologias devem impactar subscrição de riscos industriais
Medidas que reduzam as chances de incidentes não podem ficar de fora das planilhas das empresas e devem ser acompanhadas pelos agentes do mercado segurador. Por: Michel Alecrim
O modelo tecnológico que tende a predominar com o advento da Indústria 4.0 tem apresentado diversas vantagens nas fábricas em que vem sendo implementado. Entre elas, o melhor monitoramento das operações e a preservação do valor dos bens de capital por meio de uma metodologia de manutenção mais preditiva. Ou seja: em vez de esperar pelo problema acontecer, são previstas ações que evitam desgastes, substituições de peças e até os temíveis acidentes.
Tecnologias como a Internet das Coisas, sistemas computacionais integrados e, principalmente, a análise de dados com uso de Inteligência Artificial podem evitar esses infortúnios e até aumentar a vida útil de máquinas e equipamentos. Por isso, a atividade de subscrição industrial precisa passar a absorver essa revolução, mas também começar a medir novos perigos advindos dessas mudanças, como os ataques cibernéticos.
Em geral, a subscrição de risco já segue critérios altamente técnicos e conta com o apoio de profissionais de engenharia que avaliam minuciosamente todas as possibilidades de acidentes e, consequentemente, de sinistros em operações industriais ou nos setores de construção e infraestrutura. São processos que auxiliam as seguradoras tanto na fase inicial, em que são elaboradas as apólices, quanto na vigência dos contratos.
AGENTES DO MERCADO
Como o grau de ameaça impacta diretamente o valor do prêmio e o equilíbrio das carteiras de seguros, medidas que reduzam as chances de incidentes, como os avanços tecnológicos, não podem ficar de fora da planilha e devem ser acompanhadas pelos agentes do mercado.
Segundo Victor Perego, membro da Subcomissão de Linhas Financeiras da FenSeg, a subscrição de risco no campo da Indústria 4.0 passa por uma rediscussão até sobre a cobertura dos seguros — empresas que adotam essa tecnologia podem precisar de proteção também contra-ataques cibernéticos ou até mesmo sabotagens internas contra sistemas que controlam equipamentos e operações.
Ainda que seja tratada de forma separada dentro do organograma de uma indústria, a tecnologia da informação nesse novo modelo estará muito mais atrelada à produção propriamente dita. Um mau funcionamento ou uma invasão nas plataformas digitais podem até interromper a operação.
“A interligação necessária entre o ambiente corporativo e o ambiente industrial não pode ter brechas, senão, uma vulnerabilidade ou um atacante que invada o ambiente corporativo pode paralisar a indústria ou até causar danos graves”, alerta Perego.
Portanto, além da avaliação dos riscos da operação e de possíveis prejuízos patrimoniais, a subscrição deve incluir uma análise da qualidade e da eficiência da cibersegurança dos sistemas envolvidos. É preciso um cuidado extremo com a blindagem total de computadores e softwares que controlam a operação e a interligação deles com as linhas de produção.
Ataques hackers precisam ser prevenidos, bem como eventuais maus usos por parte de colaboradores ou prestadores de serviço — não se pode descartar nem mesmo a possibilidade de sabotagens. O respeito às boas práticas de segurança cibernética e a constante atualização desses mecanismos tendem a ser vantajosos para seguradores e indústrias que adquirem os seguros.
Outro impacto que a tecnologia da Indústria 4.0 pode trazer no campo do seguro de instalações industriais é na decisão de compartilhamento dos dados de funcionamento dessas unidades entre as indústrias e as seguradoras.
EVOLUÇÃO DOS DADOS
De acordo com Perego, é possível acompanhar online da evolução dos dados agregados e a avaliação dos riscos por parte das companhias que emitem as apólices e que ficam responsáveis por cobrir os prejuízos. Essa telemetria também poderia incluir a segurança cibernética. Uma vez que a transparência só aumenta a viabilidade do seguro na prática.
“As tendências de ameaças mudam ao longo do tempo, e devem ser avaliadas questões geopolíticas, a inserção do segurado em um setor mais estratégico e a evolução dos mecanismos de controle da companhia. Com acesso aos dados, a seguradora tem melhores condições de monitorar sem ficar no escuro. Sabemos que os atacantes estão inovando, e também o que vem sendo feito em termos de proteção por parte da empresa”, avalia Perego.
A subscrição de risco auxilia a seguradora tanto no cálculo do prêmio quanto na decisão de proteger ou não os bens e as operações em jogo. Por isso, a tecnologia tende a ser uma aliada desse processo, reduzindo os perigos envolvidos e os custos de manutenção e aumentando a eficiência e a produtividade das instalações industriais.
Por aprofundar o processo de automação nas fábricas e praticamente eliminar tarefas repetitivas, o perigo de falhas humanas também é bastante evitado, dando maior segurança às linhas de montagem. Entretanto, todo esse avanço pode falhar se a digitalização e os computadores não estiverem protegidos. Mais do que nunca, as empresas precisam de planejamento e proteção.